O Enfermeiro de Machado de Assis
O conto O Enfermeiro está, certamente, entre os melhores contos de Machado de Assis. Narrado em primeira pessoa a um interlocutor imaginário, é a história do último enfermeiro do rabugento coronel Felisberto, que esgana seu indócil paciente.
De férias na casa da minha família paterna em Santo Antonio de Jesus-BA, meu primo Rodrigo me fez uma proposta muito decente, e que ja havia sido feita pela sua professora de redação. Ele solicitou minha ajuda para entender o conto "O enfermeiro" e transformá-lo em um esquete teatral usando uma linguagem de fácil acesso e entendimento, e que também fosse cômico. Arregacei as mangas literalmente e juntos montamos uns diálogos. O texto ficou muito engraçado.
Conto baseado em O Enfermeiro de Machado de Assis
Por Gilmara Lisboa e Rodrigo Fausto
1º Ato - A vila
NARRAÇÃO: Em agosto de 1860, Procópio, 42 anos, a pedido do vigário, aceita mediante a um bom ordenado, servir de enfermeiro ao coronel Felisberto, um velho de 60 anos. O estudante de teologia, arruma suas malas e segue para o novo trabalho.
Cenário: Uma mesa de bar com quatro homens jogando dominó.
(Procópio se aproxima dos quatro homens, limpa a garganta e pergunta:)
PROCÓPIO: Alguém aqui conhece o Coronel Felisberto?
HOMEM 1: Quem não conhece aquele velho insuportável?! Homem exigente, nem os amigos querem meia com ele.
HOMEM 2: Por causa de que, tu quer saber do velhote?
PROCÓPIO: Sou o enfermeiro contratado para cuidar do coroa.
HOMEM 3: Affffff. Já passaram mais de trocentos enfermeiros pela aquela casa.
HOMEM 4: Verdade. Soube que ele já desceu a madeira em dois e até quebrou o braço de outro.
Homem 1: Lá gasta mais com enfermeiro do que com remédio.
PROCÓPIO: É, paga-se bem!
NARRAÇÃO: Procópio agradece pelas informações e parte para a casa do Coronel.
2º Ato - Na casa do Coronel
Cenário: Coronel sentado numa cadeira com uma bengala com olhar perdido xingando muito. Prócopio se aproxima.
CORONEL: Quem é você?
PROCÓPIO: Sou o enfermeiro, senhor.
CORONEL (fala ríspido): Aqui não teve nenhum enfermeiro que prestasse. Bando de preguiçosos, dormiam o tempo todo. E quando estavam acordados viviam correndo atrás das periguetes. Dois deles eram ladrões. Você é ladrão?
PROCÓPIO: Não, senhor! Nunca roubei ninguém.
CORONEL: Qual o seu nome?.
PROCÓPIO: Sou o Procópio José Gomes Valongo.
CORONEL: Colombo?
PROCÓPIO: Han – han... Valongo, senhor! Va... lon... Go.
CORONEL: Valongo? E isso é lá nome de gente, ôla êle! Vou ficar só com Propró.
PROCÓPIO: Ok! Fique a vontade.
3º Ato - A porretada
NARRAÇÃO: Após três meses cuidando do velho, Procópio já cheio de tanta perturbação aguarda uma oportunidade para vazar de vez da casa do mal humorado.
Cenário: Coronel andando com dificuldades com uma bengala gritando pelo enfermeiro.
CORONEL: Propró seu filho de uma mula. Cadê você seu lascado, preguiçoso, descarado, vagabundo, sasizeiro, xincheiro...Venha cá ligeiro.
PROCÓPIO chega correndo: Aqui estou senhor!
( O coronel ataca o enfermeiro com a bengala)
PROCÓPIO grita bravo: Seu velho rabugento, não estou suportando mais. Seu mal amado. Não fico mais nem um minuto aqui.
NARRAÇÃO: O coronel se assusta com a brabeza do enfermeiro e arrependido procura-o e com a voz mansa, diz:
FUNDO MUSICAL INSTRUMENTAL AVIÕES DO FORRÓ: Vou não quero não
CORONEL: Oh Propró! Num vá não , quero não, pode não, o velhinho não agüenta não.
PROCÓPIO: Vou sim,quero sim, posso sim, o senhor não manda em mim. Tô afim vou partir.
CORONEL: Vá não Propozinho. Eu já estou com o pé na cova. Breve eu to batendo as botas, e eu quero você no meu enterro, senão ... eu puxo o teu pé de noite... Você crer em alma de outro mundo?
PROCÓPIO: Ôla êle! Que alma de outro mundo o que?!
( O coronel com a bengala na mão ameaça bater em procópio e diz: )
CORONEL: Não crer por que seu burro? Filho de uma que ronca e fuça!
PROCÓPIO: Já vem o senhor de novo. Vou embora mesmo.
( O coronel agarra o enfermeiro pela cintura e implora: )
CORONEL: Vá não! Vã não!
( Procópio olha sério pro coronel: )
CORONEL: Eu prometo , não vou lhe bater mais de bengala... Eu juro...
CORONEL murmura: Bato só de cinto...
4º Ato - A fúria
NARRAÇÃO: O enfermeiro na tentativa de driblar o sono para estar ativo ao horário do remédio do coronel Felisberto, é vencido pelo cansaço e dorme.
Cenário: Coronel deitado dormindo, uma mesa com uma garrafa de água próximo da cama, e Procópio numa cadeira cochilando com um livro aberto sobre o peito.
CORONEL acorda aos berros: Enfermeeeeeeeeeeeeeeiro seu filho de uma lascada, preguiçoso,dorminhoco, vagabundo, miserável, não vai me dar meu remédio não? Quer apressar minha morte seu bandido?!
( O coronel apanha uma garrafa e joga contra o enfermeiro, que acorda sobressaltado e muito irado, parte pra cima do velho apertando o seu pescoço.
PROCÓPIO : Seu velho desgraçado, veja o que você me fez. Partiu minha cara .Estou de saco cheio dos seus delírios e maus tratos. Toma o teu doce agora.
NARRAÇÃO: Procópio após sua ira, percebe que apertou o pescoço do velho com muita força e desesperadamente, descobre que o velho partiu desta pra uma melhor.
NARRAÇÃO: Atordoado com sentimento de culpa e com muito medo , Procópio vagueia de um lado a outro do quarto. Muito nervoso, se desespera, mas se controla. Ouve vozes vindo das paredes: ASSASSINO,.. ASSASSINO. O home fica ainda mais atordoado. E se ele fugir! E se perde em seus pensamentos estratégicos... Senta e aguarda que o dia alvoreça.
Tudo transcorre bem ao amanhecer. A morte do velho vira notícia, e nenhuma desconfiança da causa. Afinal o coronel já estava com o pé na cova. O vigário é anunciado e o enterro realizado.
Cenário: Procópio abrindo uma carta e lendo silenciosamente apresentado espanto e mistério.
NARRAÇÃO: Procópio organiza os seus pertences e vai para o Rio de Janeiro. Sete dias depois da sua chegada, recebe uma carta do vigário com uma notícia maravilhosa... O que será que continha naquela carta? Qual a boa notícia o vigário traria para Procópio? Querem saber? Leia o conto...
FIM
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A Versátil, em parceria com a Fraiha, apresenta O Enfermeiro, uma ótima adaptação de um dos melhores contos do genial Machado de Assis (1839-1908), que conta com grandes interpretações dos atores Paulo Autran e Matheus Nachtergaele.
Bem , vou ficando por aqui... Abraços fraternos!